quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Amor (( Khalil Gibran ))

Quando o amor te chamar, siga-o,

Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;

E quando ele te envolver com suas asas, cede,

Embora a espada oculta na sua plumagem possa te ferir;

E quando ele te falar, acredite nele,

Embora sua voz possa despedaçar seus sonhos

Como o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor te coroa,

Assim ele te crucifica.

E da mesma forma que contribui para o seu crescimento,

Trabalha para sua queda.

E da mesma forma que alcança sua altura

E acaricia seus ramos mais tenros que se embalam ao sol,

Assim também desce até suas raízes

E as sacode no seu apego à terra.

Como feixes de trigo, ele te aperta junto ao seu coração.

Ele te debulha para expor sua nudez.

Ele te peneira para te libertar das palhas.

Ele te mói até a extrema brancura.

Ele te amassa até que se torne maleável.

Então, ele te leva ao fogo sagrado e vos transforma

No pão místico do banquete divino.

Todas essas coisas, o amor operará em você
Para que conheça os segredos de seu coração

E, com esse conhecimento,

Se converta no pão místico do banquete divino.

Todavia, se no seu temor,

Procurar somente a paz do amor e o gozo do amor,

Então seria melhor que cobrisse sua nudez

E abandonasse a eira do amor,

Para entrar num mundo sem estações,

Onde rirá, mas não todos os seus risos,

E chorará, mas não todas as suas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio

E nada recebe senão de si próprio.

O amor não possui, nem se deixa possuir.

Porque o amor basta-se a si mesmo.

Quando um ama, que não diga:

“Deus está no meu coração”,

Mas que diga antes:

"Eu estou no coração de Deus”.

E não imagine que possa dirigir o curso do amor,

Pois o amor, se te achar digno,

Determinará ele próprio o seu curso.

O amor não tem outro desejo

Senão o de atingir a sua plenitude.

Se, contudo, amar e precisar ter desejos,

Sejam estes os vossos desejos:

De se diluir no amor e ser como um riacho

Que canta sua melodia para a noite;

De conhecer a dor de sentir ternura demasiada;

De ficar feridos por sua própria compreensão do amor

E de sangrar de boa vontade e com alegria;

De acordar na aurora com o coração alado

E agradecer por um novo dia de amor;

De descansar ao meio-dia

E meditar sobre o êxtase do amor;

De voltar para casa à noite com gratidão;

De adormecer com uma prece no coração para o bem-amado,

E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

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